Anna e Frankie são melhores amigas, do tipo que contam tudo uma
para a outra e não mantêm segredos. Contudo, há muito tempo Anna tem
sentimentos por Matt, o irmão mais velho de Frankie, parte do grupo, mas com
medo de complicar as coisas, jamais contou à amiga. Isto é, até que no seu
aniversário de 15 anos, ela descobre que Matt sente o mesmo por ela e, então,
eles resolvem contar a Frankie, na viagem que os dois irmãos e os pais sempre
fazem nas férias para a Califórnia. Contudo, os três sofrem um acidente de
carro grave, algumas semanas antes, e Matt morre.
Com isso, ambas ficam arrasadas e Anna, que é quem narra o
livro, acredita que o segredo dos dois morre junto. Um ano depois, e sem ainda
superar a perda, Frankie mudou completamente o estilo e personalidade, se
tornando um pouco estranha até mesmo a própria melhor amiga. Mas é nas
férias que finalmente surge a oportunidade de um “novo começo”, com a viagem da
família para a Califórnia, levando junto Anna. E é daí que vem o nome do livro,
pois Frankie, nessa nova personalidade meio louca, resolve que as duas devem
conhecer 20 garotos, mesmo que Anna não concorde muito com isso.
Se tivesse encontrado a borboleta que bateu as asas antes de entrarmos no carro naquele dia, eu a esmagaria. (pág. 90)
Apesar do tema pesado, Vinte
garotos no verão é uma história, surpreendentemente, com uma narrativa leve
e a escrita da Sarah Ockler torna tudo mais fácil de ler e impossível de
largar. Por justamente ser Anna a narradora, nós ficamos indo e voltando no
tempo, com flashbacks do curto
período em que ela e Matt passaram juntos, mesclados às novas experiências da
viagem. Eu gostei dessa mistura e não vou mentir, me dava uma dor no coração
pensar em toda a vida que Matt tinha pela frente e que foi bruscamente
interrompida.
A viagem das meninas na Califórnia, além de ter um plano de
fundo maravilhoso (por favor, eu
queria fazer essa viagem), também é o lugar de muitas coisas novas e primeiras
vezes. As duas, por mais que tentem esconder, mudaram muito depois da perda e,
ao mesmo tempo, ainda não se libertaram do luto, mesmo que cada uma à sua
própria maneira. Anna, por exemplo, ainda só pensa em Matt, praticamente, então
em alguns momentos era fácil perder a paciência com ela, mesmo que, no decorrer
da história, eu tenha acabado simpatizando com seus problemas e conflitos.
Em nosso curto tempo junto, nós quatro nos tornamos íntimos, como só acontece com pessoas que você mal conhece - pessoas que vivem a centemas de quilômetros e vários estados de distância.
Pessoas que não sabem seus segredos. (pág. 141)
Frankie, por outro lado, é muito mais complicada. Ela era
extremamente próxima do irmão e, ao se ver sozinha, começa a agir como uma
menina rebelde, querendo chamar a atenção de todos, especificamente de seus
pais alienados e com problemas no casamento. Até o meio da história eu estava
meio em dúvida se gostava dela, se por um lado ela incentivava Anna a sair da
concha, ela também me irritava por querer sempre ser a estrela do show. Do meio
para o final, então, foi uma montanha-russa louca, e mesmo que sim, houve
momentos em que eu achei seu comportamento super babaca, Frankie também me
conquistou (um pouquinho).
A narrativa leve tornava os dias da viagem fáceis de acompanhar
e, conforme as meninas vão fazendo amizades, ao mesmo tempo em que elas saem da
concha, suas mentiras para os pais de Frankie se tornam cada vez maiores, mais
loucas e mais perigosas. Não vou mentir, esperei (quase) o livro inteiro para
um deles desconfiar e ver toda a imagem falsa que elas construíram desmoronar.
Aliás, esse foi um dos pontos em que eu entendi o comportamento de Frankie, em
parte, porque seus pais se importam muito, mas ao mesmo tempo, são extremamente
desligados em relação à filha! Eu sei que todos sofreram uma enorme perda, mas
às vezes era difícil engolir essa desatenção.
Não se mova, Anna Reiley. Nesse instante, tudo é perfeito. (pág. 285)
Outra coisa que me incomodou, mesmo que não muito, foi a maneira
como a história, na viagem, foi desenvolvida. Sim, eu gostei dos personagens
(de quase todos, na verdade), mas ao mesmo tempo, eu esperava alguma coisa mais
complexa no meio da história, menos dia-a-dia de um adolescente. Há os flashbacks de fato, mas até os últimos
capítulos, as duas amigas ainda guardavam mágoas por causa da tragédia e
simplesmente ficavam tentando tapar o sol com a peneira.
Apesar disso, Vinte
garotos no verão é um livro incrível, pelo menos para mim, porque me tocou
muito. Nunca sofri esse tipo de perda, mas ver a dor que causa nas pessoas
próximas e não se comover foi impossível, ao mesmo tempo que foi reconfortante
ver que, mesmo assim, é possível dar a volta por cima sem esquecer daquele que
se perdeu. Não posso deixar de elogiar também o trabalho da editora, que criou detalhes muito fofos nas páginas e que representavam bem o clima do livro. Foi para os meus favoritos!
P.S.: Recomendo muito para quem gostou de O céu está em todo lugar, da Jandy Nelson.
Editora: Novo Conceito
Ano: 2014
Páginas: 288
Nome original: Twenty Boy Summer
Coleção: -
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