Há muito, muito, muito
tempo eu queria ler esse livro. O esquisito? Eu o tenho na minha estante há uns
três anos, mas sempre acabava enrolando pra ler, por algum motivo desconhecido.
No entanto, aproveitei as férias e, finalmente, dei uma chance a distopia de
Scott Westerfeld, da qual já ouvi tanto elogios quanto críticas.
Tally é uma feia prestes a completar 16 anos, que só
consegue pensar em fazer a cirurgia que a transformará em perfeita e assim, poderá se juntar com seus amigos e,
principalmente Peris, seu melhor amigo, e começará de verdade a viver. Tudo
muda quando ela conhece Shay, uma feia da mesma idade, que não quer fazer a
cirurgia e, na noite antes do aniversário de ambas, foge para a Fumaça, uma
comunidade no meio da natureza onde os que são contra a cirurgia acabam indo. É
aí que Tally tem sua vida mudada completamente ao conhecer as Circunstâncias
Especiais, cheia de perfeitos aterrorizantes, e que só farão a cirurgia nela se
ela conseguir achar onde a Fumaça fica.
O livro tem um começo bem
lento, achei, talvez um dos motivos para que eu tenha demorado a lê-lo foi que
os primeiros capítulos eram bem introdutórios. No entanto, conforme vemos a
amizade de Shay e Tally crescendo, a chegada do aniversário de 16 anos e,
finalmente, quando as coisas começam a ficar complicadas, é aí que entramos de
vez na história. Tally é uma protagonista inteligente, esperta, boa em aprontar
coisas na Vila Feia, onde mora, mas aos poucos, dá pra ver que ela se torna
mais do que isso, conforme vai descobrindo o que o governo, que tanto achava
que era maravilhoso, é na verdade cruel e drástico. Gostei dos personagens num
geral, mas senti falta de uma maior empatia com os outros, tirando a
protagonista, que eu gostei e torcia por.
Aliás, por ser um livro
distópico, a sociedade como plano de fundo é fundamental. Em Feios, nós descobrimos em parte como o
mundo se tornou o lugar que é na história, mesmo que não tenhamos nada
concreto. Aliás, uma coisa que eu pensei nesse livro e que costumo não achar em
outros livros foi que esse, mais do que todos os outros distópicos que já li, é
o que eu poderia mais chamar de “racional”.
Sim, é loucura que todos
tenham que fazer certa cirurgia que os mudará totalmente com certa idade, mas é
possível entender por que há essa “necessidade” de igualdade, afinal, vivemos
num mundo que as diferenças de etnias, classes sociais, aparências, influenciam
muito no relacionamento das pessoas, então é, pelo menos na teoria, lógico
tentar fazer as pessoas mais iguais. Claro que, como até mesmo Tally aponta no
livro, por que não simplesmente deveria haver uma reeducação no pensamento, de
modo a não julgarmos imediatamente as pessoas?
Mesmo assim, por o
argumento da atual sociedade ser bom dessa forma, achei um pouco falho o porquê de algumas pessoas serem tão
contra a cirurgia, no começo da história, mas Scott não me decepcionou,
construindo uma história bem legal.
Algumas coisas que
ocorreram eu já conseguia imaginar, afinal, eu sempre espero alguma grande
surpresa, mas nem por isso o livro deixa de ser tão bom. Feios não é o livro que te pega de primeira, mas aos poucos, você
se aproxima dos personagens e quer saber o que irá acontecer naquele mundo. O
final é de deixar qualquer um louco pela continuação, Perfeitos, além de lançar mais alguns mistérios no ar, o que foi
uma jogada legal do Scott.
O romance, que fica apenas
sugerido em um primeiro momento, aos poucos se desenvolve entre Tally e ninguém
menos que David, um feio que foi criado na Fumaça, do qual Shay gosta. Em si,
com todos os motivos para não dar certo. No entanto, é um romance fofo de se
ver, nada que me fizesse suspirar, mas é bonito ver como David aos poucos muda
Tally, abrindo seus olhos para o que a cirurgia realmente significa: uma
mudança não só de aparência, mas também de personalidade. Ele pode não ser meu
personagem mais querido, mas é fundamental pra que Tally se dê conta da
verdade.
Se você gosta de
distópicos, transformações e todas essas coisas loucas e legais, Feios é um must-read. Se gosta de livros muito bons, também deveria dar uma
chance.
Editora: Galera Record
Ano: 2005 (original) - 2010 (Brasil)
Páginas: 448 (original) - 415 (Brasil)
Nome original: Uglies
Coleção: Feios, #1
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