Quando eu ouvi falar desse
livro, já fiquei bem curiosa. A proposta de fazer um livro com cartas não é
exatamente nova, mas a ideia de fazê-las para pessoas que já morreram, além de
um tanto sombria, parecia também libertadora, afinal seria possível realmente
se abrir, sem se preocupar com julgamentos ou repreensões da outra parte.
E é assim mesmo que Laurel se
sente ao escrever para seus quase ídolos, como Kurt Cobain, Amy Winehouse e Jim
Morrison. A sua situação também não está muito boa, após sua irmã, seu exemplo,
a pessoa que mais amava no mundo, May, morrer, e Laurel se sentir como uma
folha seca. Ela se isola do mundo e só fala sobre seus verdadeiros sentimentos
justamente nas cartas, mas aos poucos faz amizades ao iniciar o colegial
e conhecer novas pessoas, como Hannah e Natalie, além de Sky, um menino que se
torna muito especial para ela.
- Sabe, acho que, quando você perde alguma coisa próxima, é como perder a si mesmo. É por isso que, no final, até escrever é difícil para ela. Ela quase não sabe como fazer. Porque quase não sabe mais quem ela é.
Laurel amava muito sua irmã, ao
ponto de idealizá-la como uma pessoa perfeita, quando a verdade era que May
estava longe disso. A vida delas não era exatamente simples, pois após
enfrentarem o divórcio dos pais, as coisas se tornam problemáticas, com May se
tornando uma menina que fazia tudo sem pensar nas consequências. Laurel,
contudo, não via isso na irmã e nós logo notamos como ela a admirava. Talvez
por isso que o livro tem uma amargura, uma dor tão real, nas cartas escritas de
Laurel. Era até difícil ler tudo aquilo, ainda mais pelo contexto que me fazia
empatizar com Laurel. É fácil se comover com suas frases, porque elas soam como
alguém que perdeu, mesmo, uma parte de si.
Além disso, a própria morte de
May permanece um mistério curioso por boa parte do livro, e só podemos ver que
Laurel, de alguma forma, se sente culpada por isso. Às vezes eu me irritava com
ela, sempre tão preocupada com o que a irmã ia penar que deixava de agir como queria. Afinal, pra quem
estava de fora era fácil ver todas as rachaduras na imagem perfeita que May
construiu ao seu redor. Saber aos poucos sobre sua história, que estava muito
conectada à de Laurel, ajudou a entender melhor a protagonista.
- O universo é maior do que qualquer coisa que cabe na sua cabeça.
O desenvolvimento da história
também é legal, porque além de Laurel, temos os conflitos que cada um dos seus
amigos passam, e acabamos por gostar deles também, porque todos tem um quê
especial, um traço da personalidade que nos deixa desejando que existissem de
verdade para serem nossos amigos!
Laurel vai evoluindo conforme a história passa e, assim, vai se abrindo cada
vez mais, e é aí que realmente a vemos como ela é. Seu relacionamento com Sky é
super fofinho, e honestamente, ela é realmente sortuda de encontrar alguém
incrível como ele (porque eu infelizmente não achei até hoje, haha).
Outra coisa que eu percebi no
decorrer da história foi como Ava Dellaira tem uma escrita que lembra, em
certos momentos, à de Stephen Chbosky, de As vantagens de ser invisível, o que é óbvio visto que os dois autores são super
próximos. A própria história de Laurel lembra um pouco a de Charlie, mas acabei
gostando mais de Laurel, talvez por conseguir me sentir mais próxima dela e da
sua realidade.
(...) porque sei que pode ser difícil acreditar que alguém te ama, se você tem medo ou não sabe exatamente quem é. Pode ser difícil acreditar que a pessoa não vai embora.
Cartas
de amor aos mortos é um livro bonito e tocante. É um livro que em
alguns momentos me dava uma dor no coração como se fosse eu no lugar da
protagonista, e que me deixava com um sorriso no rosto em outras páginas. É uma
história delicada sobre alguém que, como todos nós, tem muitas camadas a
revelar ainda.
4.5 cartas de amor ao Kurt Cobain
Editora: Seguinte
Ano: 2014
Páginas: 344
Nome original: Love Letters to the Dead
Coleção: -
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