Jandy Nelson é uma autora que
sabe mexer, como poucas, comigo. Mesmo eu tendo lido apenas um único livro
dela, sua escrita pessoal, honesta e crua me encantou, em especial por focar em
relacionamentos nada fáceis, familiares ou não. Por isso, quando finalmente ela
lançou um segundo livro e consegui tê-lo em minhas mãos, minhas expectativas
estavam altas.
A história de Eu te darei o sol é complicada: dois
gêmeos, Noah e Jude, que desde que se conhecem por gente são muito próximos mas
acabam se distanciando muito quando entram na adolescência. Dividida em duas
narrativas, com Noah cantando os primeiros anos (o passado, por assim dizer) e
Jude os últimos anos (o presente), é incrível ver como eles são diferentes, mas
ao mesmo tempo se completam e mesmo sendo quase opostos, ainda agem de maneiras
semelhantes.
Alguma coisa está acontecendo no rosto dele agora, algo muito brilhante tentando transparecer, uma represa contendo toda uma parede de luz. A alma dele deve ser um sol. Nunca conheci ninguém que tivesse alma de sol. (pág. 79)
O livro tem um tom poético, não
só pela escrita característica da Jandy, mas porque ambos são dados às artes:
Jude com as esculturas, Noah com as pinturas. É impossível não ficar meio boba
com o talento que ambos possuem, com as descrições de suas criações e ter que,
infelizmente, apenas imaginá-las. Isso só me fez querer, ainda mais, saber
desenhar ou criar algo desse tipo! No entanto, ao mesmo tempo que essa veia
artística presente nos dois os une, inevitavelmente acaba por criar rixas também,
rixas que não são apenas uma competição entre irmãos: são um reflexo da própria
família disfuncional em que vivem.
Todo livro que possui flashbacks me dá uma sensação dolorosa:
é como saber que o trem está vindo, mas continuar nos trilhos, sem poder fazer
nada. Apesar de todos os problemas, de todas as mudanças que a adolescência
trouxe, Jude e Noah conseguem se manter relativamente bem, até que alguma coisa
desestabiliza a família de vez, e justamente por serem tão diferentes, suas
reações variam muito.
Talvez a mamãe estivesse enganada quanto àquele tipo de menina. Porque esse tipo de menina cospe em caras que a tratam mal. Talvez eu esteja sentindo falta desse tipo de menina. Talvez esse tipo de menina esteja abrindo caminho naquela pedra no estúdio de Guillermo. Talvez esse tipo de menina entenda que não foi minha culpa que um carro com a minha mãe dentro tenha perdido o controle, sem ter relação alguma com o que fiz com esse babaca antes. Eu não atraí o azar para nós, por mais que tenha me sentido assim. O azar veio sozinho. Ele sempre chega sozinho. (pág. 321)
Noah é um menino tímido, muito
pensativo e que está mais acostumada a observar que agir. É muito legal entrar
na mente dele e ver como ele pensa diante cada situação, como é difícil para
ele aceitar a si mesmo, e o quanto ele se importa com os outros. Jude é muito
diferente disso: é alguém extrovertida, espontânea, a menina que você quer que
seja sua amiga. Pelo menos a princípio, é fácil julgá-los como uma única
personalidade, o que Jandy prova ser algo totalmente errado ao decorrer das
páginas.
Além deles, nós vamos conhecendo
alguns outros personagens fundamentais em suas vidas, como a mãe, o pai, os
interesses amorosos e antigos amigos. Uma das coisas mais interessantes é que
aqui, como acontece com todo mundo, eles cometem erros. Eles agem para se
vingar, mas eles também são altruístas. São pessoas ainda em formação, que após
uma perda, demoram a seguir em frente.
- Ou talvez uma pessoa seja feita de várias pessoas - digo. - Talvez estejamos acumulando novas personalidades o tempo todo. - Carregando-as ao fazermos nossas escolhas, boas e más, enquanto erramos, organizamos, perdemos a cabeça, encontramos nossa cabeça, desabamos, nos apaixonamos, sofremos, crescemos, nos retiramos do mundo, mergulhamos no mundo, ao criarmos coisas e destruirmos coisas.
Ele dá uma risadinha.
- Cada personalidade subindo nos ombros da anterior, até nos transformarmos em frágeis pirâmides humanas? (pág. 360)
É um livro que dá uma dor no
coração porque, mesmo que não seja uma situação conhecida, Jandy nos insere no
mundo deles, nos conquista não apenas com empatia, mas porque nós entramos na vida deles. Jude e Noah viram mais do que personagens, e o final, apesar de
não me conquistar totalmente, por fugir um pouco do espírito do resto do livro,
fechou as pontas necessárias e me emocionou. Eu te darei o sol é um livro sobre relações que mexem conosco.
Sobre como se arriscar, mesmo que isso pareça doloroso, é fundamental.
"Reconstrua o mundo", afinal.
5 sóis muito brilhantes
Nunca tinha ouvido falar dessa autora, mas pela resenha, me identifiquei com o que vc disse sobre a escrita poética dela, e a atribuição de talentos artísticos aos gêmeos... Gosto muito dessas coisas! Fiquei com vontade de ler o livro agora, parece ser ótimo!!
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirestou muito curioso para ler esse livro, todas as resenhas que eu li só comprovam mais ainda que o livro é muito bom, espero não demorar muito para eu conseguir o meu, essa capa brasileira ficou um show
Bjks
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