Um romance. Londres. Essas três
palavrinhas me deixaram com água na boca por Charlotte Street. Tinha o potencial de ser um livro fofo
e com uma história linda, mas será que ele conseguiu cumprir seu potencial?
Jason é um cara comum, atualmente vive de favor no
apartamento do melhor amigo, Dev, e está sem nenhuma expectativa na vida, porque ele só um “ex”: ex-professor,
ex-namorado... Aquelas pessoas sem esperança na vida, sabe? Mas tudo muda quando ele conhece “A Garota”.
É um amor a primeira vista e, aparentemente, de mão única, já que só Jason fica encantado. Com isso, ele
quer retomar, quer achar a Garota,
quer tomar uma atitude. Com a ajuda de Dev,
os dois acabam descobrindo muito mais que apenas o nome da moça que mexeu com o
coração de Jason.
“Não sei como o Dev achava que elas poderiam me levar a ela. Ele não
tem uma câmera. Talvez ele ache que as pessoas frequentemente tiram fotos de si
mesmas segurando um pedaço de papel com os detalhes de seu contato. Talvez ele
ache que todos nós posamos em frente a placas de trânsito, e apontamos para
qual casa moramos, só para o caso de algum estranho encontrar nossa câmera e
quiser aparecer de repente. E vamos dizer que, por qualquer razão, seu sonho
mais selvagem se realizasse, e tivesse uma foto desse tipo, e aí?
Eu dou um jeito, certo? Bato na porta e digo ‘Oi! Meu amigo e eu revelamos suas fotos
particulares e então as examinamos cuidadosamente para que assim pudéssemos vir
à sua casa ver você!’. Ela nunca mais deixaria que alguém tirasse fotos dela.” (pág. 58)
Como eu disse, o livro tinha
ingredientes muito bons... Mas não foi tudo isso que eu pensei que seria! Não sei se era o momento que li que não era o dos melhores – visto que demorei
séculos para terminá-lo, e foi quase forçada (!) - ou se a história peca em conquistar o leitor, o fato é que o livro acabou
se tornando meio confuso e enrolado
para mim.
O protagonista
me lembrou imediatamente dois outros: Thomas
Clarke, de Cruzando o caminho do Sol, e Ben Bailey, de Um mundo
brilhante. Talvez por os três se encontrarem mais ou menos na mesma
encruzilhada, onde não sabem se o que fizeram
com a vida foi o que queriam fazer. Jason
não me conquistou, porque era alguém bem desanimado. Mas o personagem que realmente surpreendeu foi seu melhor amigo, Dev, com
ótimos conselhos e um humor impecável.
“Ele parou, e estava adorando o suspense. Geralmente, eu também amo
pausas dramáticas, é verdade. Posso pausar por até um minuto; é como um dom.
Sarah costumava dizer que a vida acontece nas pausas; que algumas pausas são
grandes pausas; pausas reconfortantes. A pausa que o taxista te dá no segundo
depois que você fala o nome da rua, o segundo depois do aceno que confirma que
ele sabe o caminho. A pausa entre as propagandas no cinema, quando a música e
as imagens e o barulho desaparecem todos de uma vez, e tudo o que resta é a luz
de um celular sendo desligado ou o lento barulho constrangido de um pacote. Mas
essa pausa de Gary... Não era uma boa pausa. Não havia nenhum conforto a ser
retirado dessa pausa.” (pág. 91)
Eu não lembro
exatamente onde li isso, mas creio que foi em alguma resenha há algum tempo: “Não é um romance, é uma história sobre
Jason encontrando a si mesmo” e foi bem o que eu pensei também. O foco,
apesar do que tudo pode indicar, não é muito em encontrar A Garota e sim em fazer Jason se tornar alguém melhor, alguém que ele queira ser. A Garota é nada mais que o “estopim”
para que todo esse processo se inicie, afinal, graças a ela, Jason sai da sua concha, descobre mais
sobre outros e sobre si mesmo que jamais teria achado possível.
“PS: Há um clichê que estou acostumada a ouvir em novelas ou em
bares, quando estou prestando atenção. Uma pessoa olha para outra e diz, bem
séria: ‘As coisas mudam. As pessoas mudam’.
Eles enfatizarão “pessoas” para que saibamos que estão falando sobre
“pessoas”, e então farão uma pausa depois de dizer isso para que você veja quão
séria elas estão.
Acredito realmente que as coisas mudam, é claro. Mas, na minha
experiência, acredito que, frequentemente, as coisas mudam porque as pessoas
não mudam.” (pág. 108)
O problema é que, nessa coisa de se
encontrar, a história acabou se tornando meio enrolada. Não me sentia muito motivada a lê-la,
o que é um defeito, provavelmente causado pelo próprio desenvolvimento, já que a escrita de Danny Wallace é pra lá
de interessante – Jason tem um jeito bem curioso de contar suas opiniões, o
que chega a ser confuso às vezes por não sabermos se é algo atual ou no
passado.
Algumas outras coisas também podem
confundir, como as várias referências a lugares diferentes que Jason faz, de Londres e
da Inglaterra num geral. Eu, pelo
menos, não conhecia a maioria delas, o que me deixou meio perdida, mas, ao
mesmo tempo, morrendo de vontade de conhecer a Londres dos londrinos e passar
por esses lugares.
“- O negócio com as descartáveis é que elas são fotos especiais.
Você deleta fotos normalmente, porque você sabe que pode, então você as apaga
sem pensar ou considerar a qualidade ou o tempo. Você tira uma, e decide se
está muito bêbado, ou gordo, ou cansado, e você tira outra, usando o recurso
especial para detectar sorrisos. Mas essas... (...) Essas são cliques característicos. Cliques da vida. Momentos felizes ou
especiais, e você tem que tirá-las. Você tem que planejá-las. Porque você pode
perder os momentos. Você está sempre por um fio de perdê-los. (...) Você tem
doze fotos – ele disse. – Doze momentos para capturar. É limitado. Então, toda
vez que você captura um naquela caixinha, você tem um a menos. Mas, na hora que
você tira a última foto, é melhor ter certeza de que aquele momento é especial,
pois e se o próximo vier e você tiver que deixá-lo ir? (...) Com uma
descartável, você quer completar sua pequena história. Terminar com um final.
Ou com um novo começo. Um clique para leva-lo ao próximo rolo. (...) Você já é
parte da história dela. Agora você tem que fazê-la parte da sua.” (pág. 138;/139)
O que eu queria ter visto mas não
consegui foi a própria Garota. Nós passamos o livro inteiro atrás dela, sem
saber quase nada sobre ela, e não conseguimos nem ver um pouquinho de como ela
seria junto a Jason.
Quando eu li o livro, eu imaginava que a busca pela Garota demoraria um certo tempo, mas nós também conseguiríamos ver
o protagonista conquistando-a, porque seria algo bem fofo (sei lá, mas eu adoro
isso!).
Aliás, estava aqui pensando, e sabe
outra coisa que CS também me lembrou?
How I Met Your Mother, aquela série de comédia. Sim, achei
o Jason super parecido com o próprio
Ted (o protagonista) e, a luta para encontrar A Garota, bem parecida com as mil histórias que Ted conta antes de
finalmente conhecer a mulher de sua vida. Engraçado, né?
“As pessoas ao seu redor são você. Elas dividem a sua
história. Elas podem até escrevê-la com você. E quando você perde uma, não há
dúvida de que perde uma parte sua.” (pág.
366)
Charlotte Street
é um livro interessante, com um pano de fundo ótimo e um desenvolvimento que
poderia ser bem melhor.
Mesmo assim, é uma leitura agradável, principalmente pela narrativa não usual.
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