A primeira vez que eu vi esse livro, eu não sabia ao certo sobre o que se tratava. Na verdade, eu até pensava ser um livro sobre alguém mais velho, com uns 20 e tantos anos, mas não podia estar mais enganada: o livro conta a história de Dan Cereill (se pronuncia “surreal”), um menino que acabou de levar um chega pra lá da vida. De repente, seu pai assume ser gay, fala que está falido e vai embora da casa em que moravam. Pra piorar as coisas, como eles não têm como pagar as contas, acabam se mudando para uma casa que sua mãe herdou de uma tia desconhecida, que é antiguíssima, fedida e que Dan não gosta nem um pouco.
“Conheço uma menina.
Sei de cor tudo sobre ela. Eu a conheço de todas as maneiras possíveis, menos de uma: de verdade.” (pág. 5)
A história é narrada toda por Dan e, posso dizer uma coisa? É uma excelente narrativa! Sem dúvida, o que eu mais gostei desse livro foi a forma como o protagonista conta as coisas. Ele, apesar da pouca idade (14 anos), tem uma visão aguçada, irônica e engraçada da vida. Uma das suas grandes manias, que aprendeu com o pai, é de fazer listas, que, coincidentemente, sempre tem seis itens, daí o nome do livro, pois logo no começo da história, nos é apresentado as seis coisas que Dan quer fazer (mas são impossíveis) agora que sua vida está completamente de cabeça para baixo. Além disso, o garoto não é muito de ficar se lamentando e, apesar de ter alguns comportamentos que eu não concordo, dá pra ver, conforme o livro passa, que no final das contas tudo isso que aconteceu em sua vida fez mais do que bem à Dan.
“Estou começando a pensar que me acostumar com esse lance de o meu pai ser gay é tipo entrar no mar. A água fica insuportavelmente gelada por um tempo, mas, quando a temperatura fica gostosa, você fica pensando qual era o problema. Infelizmente, até agora a água não passou das minhas canelas, e estou dando passinhos de formiga.” (pág. 80)
Além da narrativa, outro ponto positivo são os personagens, carismáticos e bem-construídos. O melhor amigo de Dan, Fred, é engraçado, cheio de espinhas e direto. Outra amiga curiosa de Dan é Lou, que é extremamente parecida com Fred e, obviamente, os dois acabam formando um belo par, daqueles que você sabe, é feito um para o outro. Estelle, a deusa de Dan, me surpreendeu bastante. Achei que não iria gostar dela, visto que parecia que ela era uma daquelas meninas populares e sem nada na cabeça, mas Estelle deu um belo tapa no meu pré-conceito sobre ela. Ela é inteligente, divertida e o relacionamento que ela desenvolve com o Dan é tããão legal. Dan é meio nerd, meio geek, então não tem muita experiência com garotas, o que rende cenas hilárias entre ele e Estelle (ainda mais quando são comentadas pelo próprio Dan).
“Paguei um preço alto por um conhecimento que deveria ser conquistado, e não roubado. Foi um negócio ruim, e do qual não posso fugir. Como em todas as boas armadilhas, entrar é fácil, mas sair pode-se revelar impossível.” (pág. 96)
Outros dois personagens que me encantaram muito foi Oliver e sua namorada, Em, que são diferentes, inteligentes, aquelas pessoas que você vê e pensa, “Quero ser assim quando crescer, independente e bem-sucedido”. O Oliver mora na propriedade em que fica a casa em que Dan agora vive (porque é uma casa antiga, tombada historicamente, então tem todas essas coisas), porque sua mãe era uma grande amiga para Adelaide, a tia da mãe de Dan. Ele acaba servindo como um “irmão mais velho legal” para Dan, ensinando coisas que, com o pai de Dan longe, não podia ensinar. A Em apareceu mais no finalzinho, mas eu realmente queria tê-la conhecido melhor! A meu ver, ela foi bem legal, mesmo com a pouco presença.
“O castigo mais superficial para um curioso é descobrir algo que ele não quer saber. O verdadeiro castigo é ter de conviver com essa culpa. Estou levando os dois na cabeça.” (pág. 139)
E eu tenho que elogiar a diagramação/edição da editora Novo Conceito! O livro, por fora e por dentro, ficou uma graça. A capa é a mesma que a original e, por dentro, cada capítulo que começa tem um desenhinho, parecido com o da capa, o que dá um toque especial nas páginas amareladas, deixando a leitura mais gostosa.
“Os pais não precisam saber de tudo, mas, como é bem capaz que acabem descobrindo, é melhor falar a verdade desde o começo.” (pág. 177)
A única coisa que me deixou descontente foi que o que causou toda essa mudança na vida de Dan, seu pai, mal é visto no livro e, algumas vezes só, é citado. Lá para o final, nós começamos ver Dan evoluir um pouco mais nesse quesito, graças a sua mãe, que é uma boa personagem (não gostei muito no começo, mas depois, fui notando que ótima mãe ela é) e a Estelle e, enfim, a própria evolução de Dan. Mas eu achei que isso ficou meio superficial, adoraria saber mais sobre o relacionamento dos dois, afinal, me pareciam bem próximos antes de toda essa confusão.
“Geralmente, correr é uma boa maneira de se esquecer de tudo. Passar a toda velocidade pelo mundo, empolgado, o barulho dos passos no chão e o borrão das imagens passando por mim – deixo minhas preocupações para trás como um lagarto trocando de pele. Quanto mais força, resistência e velocidade percebo que tenho, mais gosto de correr. Eu nem ligo para a dor. Forçar o meu limite, além da minha zona de conforto, faz me sentir mais forte. Não tem pensamento algum dentro de mim, só uma máquina.” (pág. 193)
Mesmo assim, Seis Coisas Impossíveis, um livro que se passa na Austrália (acho válido ressaltar isso, dá pra ver algumas diferenças entre ele e livros americanos, mesmo que poucas), que eu não dava nada, acabou se provando um ótimo entretenimento. Minha experiência com ele foi ótima e, em sua homenagem, aqui estão as minhas seis coisas impossíveis:
1. Ser menos sarcástica (mesmo porque eu gosto do meu sarcasmo).
2. Se irritar menos.
3. Gostar de Física de verdade.
4. Ler menos livros, ver menos séries (afinal, isso é um amor muito grande pra acabar).
5. Trocar amizades (odeio quando fazem isso, logo, jamais faria. Espero).
6. Sorrir menos.
P.S.: Dei uma procurada no Goodreads e há uma companion novel desse livro chamado “Wildlife”, com a Lou. Bem que a NC podia publicar por aqui, né? Tá certo que é um lançamento recente, mas mesmo assim...
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