Eu já estava curiosa com esse
livro há tempos, desde quando
vi que uma blogueira internacional disse que era uma ótima leitura. A premissa parecia ser forte, porém
extremamente interessante. Afinal, apesar de os distúrbios alimentares serem algo, infelizmente, “comum” para
adolescentes, nós não vemos muitos livros com essa temática – talvez por
ser algo difícil de ler, ou porque é “mais fácil fechar os olhos” diante desse
grande problema.
“Eu sabia o que ele
queria ouvir. Ele não suportava me ver doente. Ninguém suporta. Eles só querem
ouvir que você está melhorando, está em recuperação, levando um dia de cada
vez. Se você fica emperrando no ‘doente’, então deveria parar de perder o tempo
deles e morrer de uma vez.” (pág. 83)
Então, numa mão esse livro tinha
tudo para ser uma leitura incrível. E, por
outra, podia acabar caindo no lugar-comum – uma menina anoxérica é salva
por algum motivo e, de repente, tudo fica brilhante e colorido novamente. No entanto, Laurie não escolheu o caminho
mais fácil – ela escolheu o caminho real.
“- (...) Por que você
não quer ver a sua mãe? Ela queimou suas bonecas em uma fogueira de ritual de
sacrifício? Leu seus e-mails?
- Ela quer mandar na
minha vida – explico.
- Que vaca. Acho que
ela pensa que é a sua mãe, ou alguma coisa assim.” (pág. 138)
Eu nunca tive ninguém próximo com esse distúrbio – agradeço por isso –
mas eu já tinha uma noção de como é
horrível olhar para si mesma e não gostar do que vê; afinal, quem nunca fez
isso? O problema começa quando deixamos
de enxergar a realidade e nos aceitarmos como somos e só pensamos nos nossos
defeitos.
“Eu não deveria. Não
posso. Não mereço. Sou uma gorda gigante e tenho nojo de mim mesma. Eu já ocupo
espaço demais. Sou uma hipócrita feia e malvada. Sou um problema. Sou um lixo.
Quero dormir e não acordar, mas não quero morrer. Quero comer como uma pessoa
normal, mas preciso ver meus ossos ou vou me odiar ainda mais e poderia
arrancar meu coração ou tomar todos os comprimidos já fabricados na história.” (pág. 197)
Lia, a protagonista de GdV, é uma menina
aparentemente normal, que mora com o
pai, sempre ausente com o trabalho, sua
segunda esposa, Jennifer, e a filha dela, Emma. Isso seria normal, se Lia não fosse uma pessoa lutando contra
si mesma, descontente com o próprio
corpo, se mutilando e contando
calorias de cada grama que come. Tudo começou anos atrás, quando sua melhor
amiga, Cassie, volta de um
acampamento com uma “nova ideia” e então, numa noite de bebedeiras, as duas fazem um pacto: farão de tudo para
ficar cada vez mais magras. No entanto, após um tempo – e três internações
de Lia numa clínica de reabilitação
e uma de Cassie – os pais de Cassie resolvem cortar relações com Lia. As duas se separam, até que Lia recebe a notícia de que Cassie morreu.
Sozinha. Num quarto de hotel qualquer. Depois de ligar para Lia 33 vezes.
“Eu poderia dizer que
estou animada, mas seria mentira. O número não importa. Se eu chegasse a 32,
iria querer 29. Se eu pesasse 4,5 quilos, não ficaria feliz até chegar aos
2,25. O único número que seria suficiente é 0. Zero quilos, zero vida, tamanho
zero, zero duplo, zero e ponto. Zerado é sinônimo de estar pronto para tudo.
Agora eu entendo.” (pág. 213)
É isso que ocasiona o “estopim”
para que Lia se destrua e se mutile de vez. Enganando todos, fingindo ser saudável e comendo o mínimo possível,
ela vai ficando cada vez mais magra, mais isolada, mais distante... É incrível como a autora passa essa
sensação para nós. Por ser uma
leitura em primeira pessoa, os sentimentos de Lia são claros, fortes. Nós
vemos tudo por seus olhos, tudo que ela pensa e sente, suas vontades de comer –
tem até uma página que só está escrito “Não. Devo. Comer.”. Lia está se perdendo, sendo puxada cada
vez mais fortemente para o mundo onde Cassie
agora habita.
“- Eu acredito que você
criou um universo metafórico no qual você pode expressar seus maiores medos.
Por um lado, eu acredito em fantasmas, mas eles são criados por nós. Nós nos
assombramos, e às vezes somos tão bons nisso que perdemos a noção da
realidade.” (pág. 243)
E foi isso que me fez amar o livro. Ele é
tão forte, mas é impossível de largar. Nós
sentimos a agonia de Lia, nos arrepiamos com suas ações – em
alguns casos, principalmente quando ela se machucava para se “sentir bem”, eu me assombrava com a capacidade da Laurie
de nos fazer sentir uma sensação de medo, de dor, assim como Lia sentia.
“Sim, os mortos andam e
assombram e se enfiam na sua cama à noite. Os fantasmas se infiltram na sua
cabeça quando você não está olhando. As estrelas se alinham e os vulcões dão à
luz pedacinhos de vidro que prevêem o futuro. Frutinhas venenosas tornam
garotas mais fortes, mas às vezes as matam. Se você uivar para a Lua e jurar
sobre o seu sangue, vai conseguir tudo o que desejar. Mas tenha cuidado com
aquilo que deseja. Sempre existe um preço.” (pág. 245)
No meio de toda essa confusão de sentimentos dolorosos
que é o mundo de Lia, surgem alguns pontinhos de luz – Elijah, o cara do hotel onde Cassie ficou hospedada quando morreu e
que a encontrou e Emma, a filha de Jennifer. Os dois são, praticamente, as
únicas pessoas com quem Lia realmente conversa. Elijah é um cara qualquer e, apesar de mal conhecer Lia, dá pra ver que ele tenta mostrá-la
o que ela pode fazer, tenta fazê-la enxergar a verdade. Emma é uma gracinha de pessoa – me lembrou minha prima, e é a única pessoa que a Lia realmente ama e
se preocupa. Na minha opinião, foi um dos grandes motivos de Lia tentar se modificar, melhorar.
“E esse é o problema.
Quando você está viva, as pessoas podem te machucar. É mais fácil engatinhar
até uma jaula de ossos, ou uma montanha de neve e confusão. É mais fácil
trancar todo mundo para fora.
Mas é mentira.” (pág.267)
Enfim, o livro é uma leitura
muito boa. Não vai ser fácil de lê-lo, não é algo “bobo”, porque mostra coisas
reais, pessoas reais, com seus problemas, defeitos e qualidades. Mas é uma
leitura que vale a pena. Eu indico!
E, finalizando com um dos meus quotes favoritos...
“Não existe cura
mágica, nem como fazer tudo desaparecer para sempre. Existem apenas pequenos
passos adiante; um dia mais fácil, uma risada inesperada, um espelho que não
importa mais.
Estou descongelando.” (pág. 269)
+ Favorito!
Li Garotas de Vidro recentemente e também gostei muito justamente pela proximidade com o tema, uma imersão mesmo na cabeça da protagonista. Acho que a autora conseguiu passar muito bem a angústia e principalmente o desespero que a Lia enfrenta na trama. Adorei a resenha.
ResponderExcluirBj
livrolab.blogspot.com
ESTOU muito curiosa a respeito desse livro, todo mundo diz que é muito bom mesmo, e a sua resenha ficou demais, em breve leio. =D
ResponderExcluirEi Isa!
ResponderExcluirUm livro com a temática mega forte, né?!
Deve ser até difícil ler. É estranho pensar que uma pessoa pode se sabotar deste jeito, mas isso acontece muito por aí.
Quero lê-lo!!!
Bjins
Capa diva!
ResponderExcluirEstou louca para ler este livro a algum tempo, peguei ele emprestado mas acabou que nem li ;/
Beiijos, Jéssica C.S
Achei o livro super interessante... Amo ler livros com toque de realismo.
ResponderExcluirThaynara ribeiro comentou:
ResponderExcluir"Preciso falar que amei a resenha??? Nunca deu muito.crédito pra esse livro (como me arrependo) se eu soubesse que era tão bom. Já tinha comprado a um bom tempo. Agora vou ficar ligada pra ver se acho ele."
Já tinha visto resenhas do livro, e gostei bastante! A capa é muito bonita, e a historia me chamou atenção pelo fato de mistérios e etc.
ResponderExcluireu. estou. arrancando. os. cabelos. por. esse. livro! Não vejo a hora de te-lo.
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