Distópicos são mesmo a última moda no mundo literário! Não vou mentir, é um dos estilos que mais
gosto em Young adult... Sou daquelas
que, só de saber que o livro é distópica, já cria boas expectativas. Eu penso
que, para um distópico ser bom, ele tem
que ter uma coisa básica: uma boa
construção do plano de fundo. A sociedade “futurística”, os
coadjuvantes, o vilão, tudo isso é de extrema importância num distópico – conta
muito saber como a sociedade por trás do livro funciona.
“Sempre me pergunto
sobre as gotas de chuva.
Gostaria de saber como
estão sempre caindo, tropeçando nos próprios pés, quebrando as pernas e
esquecendo-se de seus paraquedas conforme tombam direito do céu rumo a um fim
incerto. É como uma pessoa que está esvaziando os bolsos sobre a terra e parece
não se importar com o destino do conteúdo que cai, que parece não se importar
com o fato de que as gotas de chuva estouram quando atingem o solo, de que elas
se estilhaçam quando chegam ao chão, de que as pessoas amaldiçoam os dias em
que as gotas ousam tocar sua porta.
Sou uma gota de chuva.”
(pág. 9)
Em Estilhaça-me, temos mais um
exemplo disso. Ele conta a história de Juliette,
uma menina que, apesar da pouca idade, já sofreu
muito em sua vida. Ela tem uma
espécie de “dom” – que poderia muito bem ser uma maldição também – que já a
custou muitas coisas. Tudo que ela toca, tem uma reação ruim – é como se,
basicamente, ela sugasse a vida dos
seres (uma súcubo (?), tirando a parte sexual). Por conta de seu “dom”, ela vive atualmente isolada de tudo e
todos, numa prisão, abandonada pelos pais, pelo mundo, uma “esquecida” por
todos.
“Às vezes gostaria que
nunca tivesse que dormir. Às vezes penso que, se eu ficar muito, muito quieta,
se eu não me mover de modo algum, as coisas podem mudar. Penso que, se me
congelar, eu posso congelar a dor.” (pág.
22)
Porém, tudo muda quando conhece Adam,
seu novo companheiro de cela. Pra
começar, Juliette nunca teve um
desses – afinal, quem seria louco de dividir o quarto com alguém que só de
tocar pode matar? Isso deixa Juliette
muito surpresa, porém, o que mais a surpreende é que, apesar de não saber de
onde, ela conhece Adam. Ele lhe é extremamente familiar, como uma foto
antiga sua que você sabe que existe, sabe que foi tirada, mas não consegue pôr
exatamente onde isso aconteceu.
“Sei por que fui atirada da margem do
planeta e há dezessete anos ando tentando me segurar. Há dezessete anos tenho
tentado escalar de volta, mas é quase impossível superar a gravidade quando
ninguém está disposto a lhe dar a mão.
Quando ninguém quer correr o risco de
tocar em você.” (pág. 27)
É quando, novamente, as coisas mudam para Juliette. De repente, de uma
mera esquecida do mundo, ela se torna uma arma poderosa para Warner, um cruel e frio comandante, que a tirou de
sua cela, com o objetivo de usá-la contra seus inimigos.
“O verão é como um
fogão lento capaz de fazer ferver todas as coisas do mundo em um grau de cada
vez. Ele é a promessa de um milhão de adjetivos felizes (...) Odeio o fastio
indiferente de um Sol preocupado demais consigo mesmo para se dar conta das
infinitas horas que passamos em sua presença. O Sol é uma coisa arrogante,
sempre vendo o mundo pelas costas quando se cansa de nós.” (pág. 28)
Bem, o livro é legal. Um dos
diferenciais dele, para os outros livros Distópicos – até mesmo num geral
–, é que ele tem um quê de algo meio
“poético”. Juliette, que é quem narra o livro, é alguém amarga, triste e sem esperança
com o mundo. Isso, no entanto, não é algo extremamente abordado no livro – é
mais como se fosse um fato aceito Juliette
ser desse jeito, sempre com algo faltando.
Ela, no entanto, mostra os seus sentimentos de uma forma extremamente aberta e
clara. Já vi algumas pessoas reclamando disso, que acham que o fato de ter
várias frases “riscadas” no livro – os “verdadeiros” pensamentos de Juliette, sua subconsciência falando
mais alto –, mas para mim foi algo muito bom. Foi como realmente entrar na cabeça da protagonista e, surpresa!, eu não fiquei muito irritada
com ela.
“Tudo que sempre quis
era estender a mão e tocar outro ser humano não apenas com minhas mãos, mas com
meu coração. Via o mundo e sua falta de compaixão, seu julgamento duro e
implacável e seus olhos frios e ressentidos. Via tudo isso a meu redor.” (pág. 65)
Adam, o seu companheiro de cela – e depois,
guardião –, é a única pessoa que já
enxergou através da Juliette letal, e viu uma menina como ela é. Os dois têm química, isso é inegável,
mas para mim, eu achei a relação deles
algo meio de supetão, meio rápido e que por vezes... Meio perdido (é
estranho usar essa palavra, mas parece que, às vezes, é como se eles nem
estivessem mais juntos, pelo jeito que se tratam).
“ – Bem, você é o
assassino – digo-lhe. – Então deve estar certo.
Seu sorriso está atado
com dinamite.
– Vá dormir.
– Vá pro inferno.
Ele movimenta a
mandíbula. Caminha até a porta.
– Estou trabalhando
nisso.” (pág. 101)
Uma das coisas mais importantes, como já citei, é a sociedade. E nisso, teve uma coisa que eu adorei nessa: ela comentou sobre fatos que “já” estão
acontecendo no nosso mundo – o aquecimento global, a extinção de espécies,
etc. Eu adorei isso, porque eu realmente
gosto de ver algo do nosso mundo numa outra perspectiva – do passado ou do
futuro (como é o caso). A sociedade onde Juliette
pertence é como é porque, após os seres
humanos terem quase exterminado a Terra e todos os seus recursos, as pessoas
precisavam de alguém que lhes dissesse o que fazer, e que isso funcionasse. É
onde surge a ditadura – mais conhecida como O Restabelecimento, nesse livro. Esse ponto foi muito bom... Mas
também abre questões enormes. Fica claro que os seres humanos também avançaram,
mas, até lá, aconteceu muita coisa. Por que as pessoas vivem daquela forma
nesse mundo? Por que não há mais liberdade, tecnologia livre para todos, coisas
simples do nosso dia-a-dia atual? São
questões que sempre me faço nos Distópicos – e esse foi um dos que fiquei mais
curiosa para saber a resposta.
“– Você esteve no
limite da insanidade sua vida inteira, não esteve? Tantas pessoas chamaram-na
de maluca que você de fato começou a acreditar nisso. Você se perguntava se
eles estavam certos. Você se perguntava se podia consertar isso. Você pensou
que, se pudesse apenas se esforçar um pouco mais, ser um pouco melhor, mais
inteligente, mais saudável... você pensou que o mundo mudaria sua opinião sobre
você. Você culpou a si mesma por tudo.” (pág.
123)
O livro, apesar de ter coisas boas, também tem coisas ruins. Para mim, a
sensação que eu tinha lendo, era que nós
estávamos andando um pouco em círculos, sendo enroladas com rotinas
repetitivas, à espera que algo diferente acontecesse – não sabíamos o quê.
Simplesmente, para mim, as coisas não
avançaram muito, nem conseguimos muitas respostas. Sei que é o primeiro de
uma série, e ainda há a chance da autora se explicar nos outros livros, mas
isso – o básico – é algo que temos
entender desde cara.
“Uma palavra, dois lábios, três quatro
cinco dedos formam um punho.
Um canto, dois pais, três quatro
cinco razões para esconder-se.
Uma criança, dois olhos, três quatro
dezessete anos de medo.
Um cabo de vassoura quebrado, um par
de rostos ferozes, sussurros coléricos, fechaduras na minha porta.
Olhe para mim – é o que eu queria
dizer a você. Fale comigo de vez em quando. Encontre-me a cura para estas
lágrimas, gostaria muito de soltar o ar dos pulmões pela primeira vez na vida.” (pág.
35)
De qualquer forma, posso afirmar: Estilhaça-me é legal. Por ser da
distopia, possui aquela clara (nem
sempre) crítica à sociedade atual, aonde podemos chegar – e que ás vezes
estamos perigosamente próximos a isso. Além disso, os personagens são bem-feitos, não só com uma camada apenas; fiquei
muito curiosa para conhecer melhor Warner, o malvado-sem-ser-100%-malvado.
Vamos ser honestos: é distópico,
vale a pena dar uma olhada. Talvez você goste, talvez ame – ou talvez
simplesmente não vá com a cara. Mas é um livro que indico sim, sem medo, pois possui um enredo bom e que tem um
ótimo potencial!
Distopia meu gênero literário favorito <3
ResponderExcluirEstou ansiosa para ler este livro desde o lançamento e na bienal, esqueci de comprar :/
Gostei bastante da sua resenha, minha vontade de ler este livro aumenta cada vez mais!
Beiijos, Jéssiica C.S
Também gosto dos distópicos, mas não costumam estar entre os meus preferidos. Só que concordo plenamente com você, o universo tem que ser muito bem construído, tem que convencer o leitor. Se não rolar esse convencimento desde o início, dificilmente o livro vai conquistar depois - minha opinião.
ResponderExcluirAinda não li Estilhaça-me, mas está na fila. O enrede tem cara de ser interessante, mas tenho receio de que caia um pouco na superficialidade, que seja aquele negócio de tensãozinha sexual jovem e só. Vamos ver.
bjos,
livrolab.blogspot.com